sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

FIM DO MUNDO... SERÁ ?

No dia 27 de outubro, as 22 horas, sozinho em casa, achei que havia chegado o fim do mundo...
O fim do meu mundo.
Trinta minutos antes, estava diante de meu pc, lembro que senti necessidade de comprar algo, peguei a moto, sai normalmente, sem notar nada de diferente.
Quando parei em frente a um mercado, senti uma dormencia nos pés...
Aí começava meu calvário.
Retornei ao meu refúgio mais apavorado que cusco em tiroteio pois o que era apenas os pés já tomava conta das minhas pernas...
Mentalizem, entrei de moto casa a dentro, sem noção do que estava acontecendo.
A solução ???
O telefone.
Ah, o telefone, aquele que a essas alturas, estava fora do meu alcance, pois quem me amparava nesse momento, era o chão.
Solução ???
Usar o grito.
E assim foi.
Abençoado o vizinho que ouviu...
Quando fui socorrido, não reconhecia minha própria filha que surgiu apavorada avisada por uma vizinha.
Uma dor enorme no peito e a sensação de ser apenas meio...
Nada da cintura para baixo, nadinha mesmo...
Muito pavor, muito medo e uma tremenda confusão mental.
Depois disso, não lembro mais nada, apenas de estar no hospital, quando alguns flashes de memória me deram a noção de que as coisas estavam piores que eu imaginava.
Uma enfermeira muito bonita, se tornou feia quando enfiou uma sonda nasogástrica em mim, outra mais linda que a primeira, virou a imagem do capeta quando me aplicou uma injeção no peito.
Foi aí que me preparei para conhecer o Pedrão lá em cima, na portaria do destino final...
Mas não foi dessa vez.
Onze dias naquele depósito de humanos com platinados desregulados, radiadores furados e motores fundidos...
Soro, muitos litros, injeções no umbigo, na bunda e nos braços, comprimidos de todas as cores que pareciam aqueles confetes que adorava na minha infância...
Médicos ???
Xiii, perdi as contas, me sentia uma cobaia.
Para contribuir com a bagunça, cada um com uma nova opinião a respeito.
Segundo eles, eu havia sofrido um AVC acompanhado de uma TROMBOSE, alem de que, os sintomas se assemelhavam muito aos de EXCLEROSE MULTIPLA DEGENERATIVA, ou então que se tratava de uma PARAPLEGIA de causas desconhecidas.
Já me sentia uma enciclopédia de medicina...
Falar em uma gripezinha mal curada, ou uma infcção qualquer ninguem falava...
Onze dias de angústia, espetadas, remédios goela abaixo, e nada de um diagnóstico correto.
Fiz o caminho inverso das coisa pois para variar, nada comigo é normal...
Cheguei de carro e sai de ambulancia do hospital.
Seguem-se as consultas sem nunca saber oque acontecera.
A unica certeza que tinha é que não sentia nada da cintura para baixo.
Seguiam os diagnósticos vagos, e muita medicação que só destruia meu estomago.
Até aqui, foram varias radiografias, uma ressonancia magnética, uma encefalomiografia, alguns eletrocardiogramas e vários exames de sangue.
E segue a tortura, já estava fugindo até de agulha de costura.
Eis que surge a idéia, a grande idéia de recomeçar tudo do zero pois as dores eram insuportaveis, as pernas haviam me abandonado de vez, o intestino parou, a cabeça parecia querer explodir, a visão estava comprometida e a tremedeira da mão direita era incontrolavel.
Novo médico, desta vez, particular...
Alguns exames e, aleluia, um diagnóstico.
Nada mais que uma maldita hérnia de disco comprimindo minha medula óssea...
Cortou toda medicação anterior, que era composta de nove, isso mesmo, nove medicamentos diferentes...
Uma injeção de morfina me deixou mais faceiro que leitão no lixo, pois depois de sessenta dias, passei a primeira noite sem dor...
Apenas tres medicamentos, uma a base de morfina para acabar com as dores, um para acertar o intestino e mais outro apenas para os momentos de cefaléia...
A magica se fez, as dores diminuiram muito, o intestino entrou em acordo comigo e a cabeça voltou a ser apenas suporte das melenas.
Claro que ainda uso as muletas para me locomover, a perna esquerda voltou a ser minha, a direita está retornando, mas é muito diante do quadro anterior.
Agora é esperar o momento de ser invadido por um bisturi, e passar alguns meses esperando que tudo volte ao normal...
Durante esse calvário, descobri que o mais importante são os amigos, que me acompanharam sempre dando o maior apoio possivel, em todos os sentidos...
Minha filha, que não mediu esforços para amenizar as coisas...
Me banhava, me vestia, comida na boca, remédios na hora certa, enfim, um exemplo de filha (te amo Daniela)...
Minha mãe, que mora em Sergipe, veio, passou um tempo, voltou até lá, resolveu os problemas dela e retornou com meu pai e meu neto, estão aqui me auxiliando, me cuidando, me dando muito amor e carinho.
Não posso deixar de citar meus amigos Márcio e Roberto, incansáveis, me provando a cada minuto, o valor de uma grande amizade...
Durante esses dias de dúvida, o máximo que conseguia, era sentar aqui por cinco ou dez minutos e precisava retornar ao leito, pois pareciam haver facas cravadas em minhas costas...
Hoje, aguento ficar tempo suficiente para escrever um texto desse tamanho.
Depois disso tudo, oque mais quero, e voltar ao meu caminhão, a minha vida...
Eu sobrevivi ao fim do mundo.
Esse texto não tem o interesse de provocar a piedade em ninguem, pelo contrário...
Essa foi a forma que encontrei de esclarecer para meus amigos o porque de minha ausencia no trabalho, na roda de amigos, enfim, de tudo que deixei de fazer parte nesse periodo nebuloso.
Agora tenho a certeza, assim que for possivel, estarei de volta, incomodando meus amigos das firmas onde frequentava diariamente, com o pessoal do posto de gasolina, com os colegas de profissão, com a turma do porto e tantos outros lugares que fazem parte da minha existencia.
Mas tambem fica na lembrança, os esforços que os amigos fizeram, como o Roberto que vinha em minha casa e me tirava para a rua, me levava para passear de carro, para que eu sentisse o clima da vida que levava, do Márcio que até na praia me levou, me fez largar as muletas e me carregou para dentro d'agua, da minha mãe que me acompanha como uma sombra, me dando a chance da vida pela segunda vez...
Viu só???
Eu quase conheci o fim do mundo bem de perto, e consegui superar...
Nada está perdido quando estamos cercados de amor e carinho.
Me sinto muito mais homem, muito mais humano agora...
Agradeço a Deus a segunda chance, mas acima de tudo, agradeço a todos que estiveram na minha volta, aos que rezaram por mim, sempre me incentivando, me dando forças para acordar a cada dia, acreditando que tudo na vida é passageiro.
Apesar de tudo, estou feliz, preparado para qualquer batalha que a vida por no meu caminho...
Mil vezes obrigado a todos...
Um enorme beijo no coração de todos vocês...

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